Deixei de ser aquele tipo de gente, talvez nunca tenho sido realmente e diferente de quem finge que é, eu assumo que deixei de ser.
Eu que passei a vida toda a comer bicho. Me amorteci. Anestesiei-me. Deixei de ser, de sentir. Não espero o que há por vir.
Já não sou mais o tipo de gente que sente.
Não me assusto com a dor do outro. Não me importo com o sofrimento alheio. Aprendi a viver no tormento.
Não me alegro com a felicidade alheia. E não gosto daquele que semeia, e se semear amor então, eu detesto. Sinto nojo. Asco. Revira-me o estomago. (É que me fere o âmago).
Detesto este tipo de gente. Finalmente deixei de ser.
Não preciso me desculpar. Sou livre para despejar o ódio por qualquer lugar. Ninguém se importa.
Há um tipo de gente que me agrada, aquele que finge que não vê a maldade que eu despejo pela vida. Eles não percebem a ferida.
Tem gente que não é gente. Mas finge ser. Finge que se importa com algo.
Uma causa. Um sapato. Uma carne. Um carro. Um animal. Uma árvore. Nunca com gente. Com gente a gente não se importa.
É inútil, gente não tem mais jeito. O jeito é deixar de ser.
Vai lá, protege as plantas, os bichos, o meio ambiente e não faça nada silenciosamente. Proteja o futuro. Lembre-se que pra gente só há presente.
O presente é estar ausente. O presente é não ser ciente que o que precisamos mesmo é voltar a ser gente. Mas não qualquer tipo de gente.
Aprenda a ser gente selecionada. Empoderada. Educada. De preferência iluminada e espiritualizada. Não seja o tipo de gente que se importa, que toca, que ouve, que sente, que acolhe, abraça.
Eu deixei de ser gente que sente, que vibra, que tem esperança, que acolhe a criança. Agora sou do tipo que vive por aí a se espreitar, ase ocultar. Sou do tipo de gente que não chora.
Perambulo pelas esquinas, em silêncio, para não notarem o que me falta. Tocar, sentir, acolher, abraçar para não desmoronar.
Por vezes quero voltar a ser. Gente. Qualquer tipo de gente que sente.




