Há uma epidemia no ar e nós estamos constantemente expostos a ela, inspire profundamente e perceberá que tem sido cada vez mais difícil respirar. Há uma infestação de fórmulas, incontáveis fórmulas que nos atacam sem que possamos notar. Esta epidemia, ao nos atingir, bloqueia a nossa principal característica humana: o pensamento. É desastroso e você precisa se proteger pois estamos completamente vulneráveis. Basta acessar ao celular, rolar o Feed de notícias do Facebook, gastar algumas horas vendo vídeos produzidos por solucionadores de problemas ou ler um livro de autoajuda, que ironicamente de ajuda, nada tem.

Tenho conseguido me safar e o segredo é que eu ando recusando fórmulas. Recuso qualquer tipo de mensagem que venda a solução imediata para a minha vida e até cheguei ao ponto de não querer me encontrar com pessoas. Veja bem, não quero me encontrar com vocês e o problema não é exatamente o encontro e sim o padrão que todos insistem em viver.  

As vezes após um dia cansativo de trabalho me pego deitada sobre a cama com os pés a balançar e enquanto eles quase tocam o chão e os meus olhos permanecem fixos no teto, um pensamento preenche a minha mente, será que existe alguém que assim como eu, vive a recusar as fórmulas da felicidade, do sucesso ou da prosperidade? E se houver, espero que possamos nos encontrar em breve, pois tem sido solitário demais viver assim.

Todos os dias me encontro com pessoas que desesperadamente e descaradamente compram fórmulas. Confesso que eu não me incomodaria se o risco não fosse tão alto, afinal a venda de produtos mequetrefes embrulhados em papéis de ilusões causa inúmeros danos. Beiramos ao abismo enquanto eles nos vendem produtos que se nos fossem oferecidos de graça, não nos serviriam.

Todas as manhas ao acordar eu peço para que um dia eu possa viver em um mundo livre do risco constante de ser contaminada. Eu desejo a eterna liberdade de me olhar e me refazer de acordo com o momento. São desejos tolos eu sei, mas é que eu não almejo o sucesso

Eu quero é viver livre, leve, solta. Pendendo para os dois lados, como uma pipa que sobrevoa perto dos fios em dias de ventos intensos, arriscando-me entre os fios de alta-tensão.

Penso que a vida não é para ser vivida dentro de um molde e bem sei que se uma fórmula fosse capaz de resolver nossos problemas, não precisaríamos de milhares delas. Báskara nos bastaria.

Recusei, recuso e recusarei e enquanto os meus pés balançam sobre a cama e quase tocam o chão, os meus olhos permanecem fixos no teto, as horas se arrastam lentamente e eu permaneço me perguntando se há alguém além de mim, capaz de compreender o mal que esta epidemia causa? Tem sido solitário viver assim!