Aprendi a conviver com livros, poemas e palavras soltas sobre a tela de um computador. Assimilei facilmente a ideia de conviver com palavras escritas na pele, como tatuagens,  mas ainda não desenvolvi a habilidade de conviver pacificamente com o humano. Sigo todos os dias tentando e enquanto eu não conquisto este feito, me aventuro entre palavras.

Vivo uma intensa paixão pelas palavras escritas e também pelas ditas. Dou risada das palavras publicadas e sinto pena, muita pena, das palavras que por mim foram apagadas.

Há aquelas que nos transformam.  Nem todas, é verdade. Mas há algumas que são capazes de transformar tudo lá fora. Amar é um bom exemplo. Essa palavra tem o dom de mudar vidas. Eu tenho vivido um romance com a palavra amar. Alimento- me dela tanto quanto posso e aprecio com prazer o doce sabor que ela me traz. E amar, que antes era somente uma palavra, agora é pretérito perfeito composto do indicativo: É que eu tenho amado tanto quanto me é possível.

Pra mim palavra boa mesmo é palavra pensada, mas é claro que não dá pra pensar o tempo todo antes de falar. E é por isso, que muitas vezes a palavra também é drama regado a muito suspense. Afinal, nunca sei o que o outro irá pensar sobre aquela sorrateira palavra que escapa de minha boca e no outro repousa (nem sempre repousa é verdade) muitas vezes ela chega ao outro como um terrível golpe. O que será que ele sentiu? Impossível saber.

Desperdício. Palavra aparentemente despretensiosa que muitas vezes transforma meu dia em caos.

Quando o assunto é palavra escrita, tem sempre as lidas e não lidas. Posso escrever, me empenhar para lhe explicar, mas se você não ler... Pronto, todo esforço é posto água abaixo. Acontece que o problema nunca é somente a palavra não lida, há aquelas que são lidas mas não compreendidas e acredite, palavra que é lida mas não é compreendida de nada serve e pode até causar mais desconforto. Espero que este texto não lhe seja desconfortável. Acredite, eu escolhi com muita atenção e cuidado cada palavra. Mas não consigo prever se essas linhas serão repouso ou golpe.

Quanto a palavra desperdício eu assumo que vivo uma eterna tragédia com ela. Ela me persegue insistentemente e quando menos espero ela sai de minha boca sem que eu possa refletir sobre ela. É um grande desperdício, desse jeito esta palavra jamais será romance. Pois aquele que me ouve se contorce na poltrona e deixa nítido a sua insatisfação para comigo. Tudo vira caos. O ouvinte se enfurece, me acusa e me ofende e não importa o que eu diga para tentar me redimir: tudo vira desperdício. Definitivamente desperdício sempre será tragédia!

Palavras, arrisco-me entre elas diariamente. Aventuro-me diante das não publicadas e me perco nas dezenas de rascunhos escondidos nas gavetas. Um dia, hei de aprender a escolher as palavras e a dizê-las de uma forma tão correta que você não ousará desperdiçá-la.

Tarefa difícil e para ser honesta... Opa, honestidade é palavra que eu gosto muito! Ela me faz companhia diária, está a todo momento me lembrando de que antes de usá-la eu preciso praticá-la constantemente e de preferência em silêncio. Voltando ao que eu estava dizendo, para ser honesta eu bem sei que é impossível que você não desperdice minhas tão selecionadas palavras. Mas para uma escritora, sonhar nunca é demais. Sonhar, eita palavra bonita de se escrever!

Agora veja bem o tamanho do meu sonho. Quero aprender a viver a palavra para que você não a desperdice. E para evitar o desperdício eu alimento em mim o amor e busco ser honesta com aquilo que acredito.

E se palavra boa mesmo é a palavra pensada, não posso jamais me recusar a pensar, pensar e pensar para não desperdiçar aquilo que sinto. É meu dever que antes de dizer qualquer palavra eu use cada letra com amor para  que  assim eu possa transformá-la em um verbo. Uma vez que a palavra vire verbo, você perceberá que aquilo que digo e escrevo não deve ser desperdiçado.

O que eu quero mesmo é evitar a tragédia e quem sabe um dia possamos conviver pacificamente com o humano e com as palavras. Sei que parece impossível, mas para um humano, sonhar nunca é demais.