[Este texto começa sem intenção alguma. Ele nasce da frustração de não ter palavras suficientemente boas para oferecer ao outro].

Aquilo que o papel não suporta, permanece engasgando-me durante as noites de pesadelos.  Aquilo que o corpo não comporta, se manifesta nas latentes dores de cabeça que frequentemente me visitam.  

Quando a mente não sossega é o coração que desata a palpitar, causando a terrível sensação de incapacidade.  

Quando o fôlego some, o peito dói e a fala se perde entre os soluços (sinto que não faz sentido falar).  

Então escolho o silêncio para evitar jogar ao outro o peso de ser quem sou.  Escolho o choro, para evitar que saiam de mim palavras que não serão capazes de traduzir aquilo que realmente aperta meu peito.  

Decido pelo silêncio e evito desperdiçar as palavras.  

Assossego meu peito e evito as palavras escritas; decido não escrevê-las em páginas inúteis. Escolho não dar vida a elas antecipadamente.  Entendo que palavras que nascem prematuras e indefesas, acabam por ter uma vida conturbada, considero ser incoerente colocá-las no mundo sem que estas estejam prontas. Polpo-lhes de um nascimento precoce.  

Há dias em que não encontro uma única palavra que possa tirar do meu ser aquilo que me atormenta. A escassez de palavra boa, bonita e eficiente é tamanha que só consigo encontrar no silêncio o caminho para suportar esta ausência.  Curiosamente é na quietude que descubro a tão desejada palavra perdida. Aquela que pode me acalentar. Deixo-a encostada até que ela esteja pronta para o nascimento.  

Não tenho pressa para apresentá-las ao mundo. Pois, sei que para toda palavra há uma hora para nascer, para crescer e para transformar. Se as palavras possuem realmente o dom de transformar o mundo, cabe a mim, prepará-las para esta missão.  

[Este texto termina, sem conclusão, porque não havia intenção alguma desde o começo dele].